O tradicional acompanhamento de arroz com feijão, conhecido como “mistura”, emerge como um desafio para a popularização do veganismo no Brasil. Esse elemento de origem animal, que muitas vezes é considerado essencial para complementar a refeição, desempenha um papel crucial na dieta da maioria da população.
Antes de explorarmos a função da “mistura” e por que ela é tão valorizada por uma parcela significativa da sociedade, é fundamental compreender a origem do termo e por que é importante abordar esse hábito considerando seu passado.
A palavra “mistura” remete aos tempos da escravidão, quando os escravizados nas senzalas tinham acesso limitado a carnes (vermelhas, frango ou peixe), devido ao alto custo desses alimentos na época. A posse e consumo desses produtos eram reservados aos senhores, sendo considerados luxuosos.
Dessa forma, os escravizados recebiam uma pequena quantidade dessas carnes, insuficiente para constituir uma refeição principal. Para lidar com essa escassez, misturavam as sobras com arroz, feijão e farinha, originando o termo “mistura”. Essa prática alimentar tem raízes tristes profundamente ligadas à população que ainda sofre as consequências da colonização europeia.
Quase toda a população brasileira carrega consigo essa herança, e é comum o espanto diante de alguém que opta por um prato abundante, mas sem a presença de carne, ovos ou embutidos. Essa reação é reflexo desse passado cruel.
A visão de que uma refeição sem componentes de origem animal é completa e saudável é desafiadora de aceitar, pois a ausência desses elementos é muitas vezes interpretada como “falta” ou insegurança alimentar.
Após oito anos sem consumir produtos de origem animal, a percepção da “mistura” evoluiu para incluir uma variedade de acompanhamentos, como couve refogada, abóbora, batata, macaxeira assada, purê, hambúrgueres de grão-de-bico, lentilha, ervilha ou feijão, entre outros.
Desapegar da ideia de que “mistura” está intrinsecamente ligada a produtos de origem animal é um passo fundamental para questionar e transformar hábitos perpetuados de geração em geração.
É crucial reconhecer que milhões de pessoas lutam pelo básico para sobreviver, e para muitos, o consumo de produtos de origem animal é considerado um símbolo de ascensão social. Essa perspectiva não pode ignorar o período desumano da escravidão no Brasil (1500-1888), sendo fundamental lembrar e combater as raízes dessa atrocidade.
Baseado na notícia da “Terra“.
Alice Barth é uma apaixonada defensora da causa vegana, cujo comprometimento transcende seu estilo de vida alimentar. Sua escrita envolvente e informada busca educar e inspirar os leitores sobre os benefícios éticos, ambientais e de saúde do veganismo, refletindo seu compromisso com um mundo mais compassivo e sustentável.